Sindicatos que representam os trabalhadores dos Correios de todo o país debateram temas de interesse emergencial da categoria e elaboraram um calendário de mobilizações e atividades de formação para o primeiro semestre de 2016. Promovido pela Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios – Fentect, o conselho sindical da entidade reuniu 31 entidades filiadas na última quarta-feira (20) das 9h às 18h, no Núcleo Bandeirante.
Com início na próxima segunda-feira (25), dia do Carteiro, o calendário pode ser alterado a qualquer ameaça de retrocesso imposta pela empresa e propõe o mínimo de duas atividades por mês, incluindo paralisações, atos, assembleias e congressos.
Convocada em regime emergencial, a reunião foi acordada após a nova diretoria dos Correios anunciar um pacote de medidas altamente nocivas para a categoria e afirmar que talvez pudesse faltar verba para o salário dos trabalhadores a partir do mês de setembro de 2016. A partir dessas afirmações, as lideranças sindicais deliberaram que seria necessário elaborar um dossiê técnico sobre a situação da ECT, com base nos números fornecidos pela empresa até o ano de 2014, uma vez que ainda não foram divulgados os valores gastos e arrecadados pelos Correios em 2015. O estudo conta com a contribuição de profissionais da área de Economia, Administração, Ciências Contábeis e Ciências da Informação, além das observações da categoria, para que, posteriormente, possam contrapor os argumentos dos Correios para o suposto colapso financeiro.
“Desde 2006, o consumo familiar tem sido importantíssimo para a economia brasileira. Em 2015, pela primeira vez em nove anos esse consumo caiu e certamente a arrecadação dos Correios sofreu com essa situação. Porém, é necessário que a empresa apresente os números de 2015 para que possamos avaliar qual foi o tamanho desse prejuízo e dar subsídios para que as entidades sindicais possam impedir que isso afete os trabalhadores”, afirmou Clóvis Scherer, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese.
Realizado pela H&J Consultores Independentes em parceria com dirigentes da Federação, o estudo direcionado sobre o suposto déficit dos Correios esmiúça as receitas, despesas e lucros líquidos da empresa no período de 1996 até 2014. O resultado aponta que embora o lucro de 2014 tenha caído em grandes proporções, o ano de 2012 contabilizou o maior valor líquido em lucro das quase duas décadas que foram analisadas. Além disso, o estudo mostra que de 2012 a 2014, a empresa gastou aproximadamente R$ 740 milhões com patrocínios, contratações diretas e propaganda. Veja aqui o estudo completo.
correios amanda“Para nós, fica evidente que houve um grande problema de gestão nos Correios, o que pode ter ocasionado parte dessa crise. Parece que não houve clareza da parte dos gestores em eleger prioridades para destinação dessa verba. Existem milhares de agências precárias pelo país e a empresa investe em propaganda, os trabalhadores são sobrecarregados porque a ECT se recusa a abrir novos concursos públicos mas gasta com contratações diretas. Os trabalhadores são o motor dos Correios e essa crise não é culpa deles, que lutam diariamente para manter o serviço em dia. Não é justo que eles paguem por equívocos administrativos”, afirma a presidenta do Sintect/DF e dirigente da Fentect, Amanda Gomes Corcino.
Além das ameaças de falta de verba para pagar o salário dos trabalhadores, a nova gestão dos Correios anunciou o fechamento de agências, a redução do efetivo dos funcionários, mudanças no plano de saúde e várias outras medidas nocivas não só para os trabalhadores da ECT mas para toda a sociedade que depende dos serviços da empresa.
“É primordial que façamos um projeto ofensivo contra esses ataques. Precisamos aprofundar o debate, exigir cada vez mais os dados financeiros da empresa para que possamos nos debruçar e aprimorar tecnicamente os nossos argumentos. Só assim teremos subsídios para dialogar com a nova diretoria e impedir que os trabalhadores sejam penalizados”, afirma a secretária de Imprensa da Fentect, Suzy Cristiny da Costa.
Para o dirigente do Sintect/PA, Paulo André, o projeto de reestruturação da empresa é apenas um dos desafios que os trabalhadores dos Correios enfrentarão ao longo de 2016. “Também temos que estar atentos a esse Congresso que aprovou o PL 4330 e continuar o embate no Senado, pois se ele for aprovado também naquela Casa, ele pode acabar definitivamente com os concursos públicos, uma vez que as estatais perdem a obrigação de fazer os concursos e podem contratar diretamente. Além do PLC 30, temos que estar de olho no PL 555, que obriga as estatais a abrir o capital em um mínimo de 25%. Vamos nos organizar e defender os Correios 100% públicos em meio a todos esses ataques”, avalia o dirigente do Sintect/ PA.
Atualmente, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos- ECT possui cerca de 130 mil trabalhadores e milhares de agências espalhadas por todo o país. “A nós, só resta fazer o enfrentamento. Vamos unificar todas as forças que compõem a nossa Federação e conscientizar a nossa categoria, mobilizando os trabalhadores e deixando claro que rechaçamos qualquer reestruturação e não permitiremos que os Correios deixem de cumprir o papel fundamental que tem nesse país, tão pouco que os trabalhadores sejam penalizados nesse processo”, afirma José Rivaldo da Silva, Secretário Geral da Fentect.
Fonte: CUT Brasília
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